Conta-se que certa vez o Baal Shem Tov, conhecido como Besht, ficou hospedado na casa de um casal muito generoso. Sabedor de que não tinham filhos, Besht os abençoou afirmando que no ano seguinte teriam a graça de conceber um filho.
Assim que ele partiu, uma bat kol, uma voz celestial, se fez ouvir e esbravejou: 'Acaso você sabia que já estava escrito o destino de que este casal seria estéril para sempre? E agora? Por conta de sua promessa o Criador terá que mudar todo o curso da natureza. E como punição por sua presunção você terá confiscado o seu lugar no Mundo Vindouro'.
O Besht, em vez de se desesperar diante da perda de seu quinhão no Mundo Vindouro, ficou radiante. 'Obrigado', agradeceu a Deus, 'até esse momento temia que meu serviço a Ti fosse manchado por pensamentos de recompensa e toda sorte de gratificações, mas agora tenho a oportunidade única de agir sem nenhuma expectativa de retribuição. Se antes podia postergar meus prêmios até para além da vida, agora que até o Mundo Vindouro ficou interditado para mim, posso ser uma pessoa livre'.
[Agora] tudo o que ele fizer estará livre da ameaça de ser motivado por razões pessoais. Em vez de se sentir condenado a uma vida sem salvação, Besht vislumbrou a possibilidade de que todos os seus atos fossem em si a grande recompensa e a redenção". (O Sagrado, p.102-103)
Por que você faz o bem? O que te move para fazer algo bom? É a eterna gratidão pela sua salvação? É simplesmente o desejo, ainda que seja impossível, de merecer a salvação?
Seja qual for a sua justificativa, por mais linda que pareça, por mais pureza que pareça haver no seu coração, você está sendo movido por interesse. Interesse em atenção: Deus te notar grato. Interesse de ser bom o bastante pra merecer. Interesse em estar nos céus [apesar de todos sabermos que salvação não é por obras].
Se você esquecer de tudo isso, se libertar de toda sua intenção de fazer o bem por alguma coisa, independente do que Deus vai ou não fazer, independente do ‘céu’, da salvação, você conseguiria fazer o bem sem nenhuma retribução, você se sentiria bem se “ todos os seus atos fossem em si a grande recompensa” ?
Você faria o bem se não existisse o conceito de salvação, de céu, de inferno, de pecado, de redenção, de recompensa divina?
Se não, se é apenas a religião, os conceitos religiosos em que você acredita que te impulsionam a fazer o que é bom, se sem que eles existissem você não faria o bem, eles só servem pra isso mesmo: te manipular para o bem comum.
E se nem assim você faz o bem, além de ser um ser humano completamente egocêntrico nem fiel aos seus próprios dogmas você é.
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