quinta-feira, 1 de setembro de 2011

#Quid ~ O Deus que eu enxergo


Aviso: Este texto será muito pessoal contendo mais de mim que um artigo comum.

Há uma atitude de Deus que me fascina. Seu interesse no ser humano, uma coisa criada. Um fruto da imaginação apaixonada e do desejo de adoração, talvez... Por que será que os anjos não bastavam? O que eu tenho que eles não têm? Bem, a questão principal realmente é o que eu tenho que interessa a Deus a ponto de não só me criar como criar um mundo de seres como eu, dispostos a fazerem escolhas tão ruins ou piores que as minhas, e mais: o que interessou Deus em mim a ponto dele se esvaziar dele e se encher de mim?


Minha mãe está em uma crise muito grande, pois está lendo o livro de Genesis para contar história por história nos cultos de sua congregação. Já estava olhando Deus como um ‘juiz mau’, que decidia sem critérios inteligíveis a nós (literalmente) meros mortais, quem iria ser feliz e ter coisas boas e quem simplesmente estaria completamente ferrado, fizesse o que fizesse.

Eu dizia sempre em tom de brincadeira que ela deveria largar o Deus do antigo Testamento pra lá, pois eu prefiro muito mais Jesus e ria. Porém a situação ficou mais séria. E mesmo comprando novas panelas e jogando todas as ‘antigas’ fora não melhorou. Por que Deus havia decidido fazer dela e da mãe dela aquelas pessoas que iriam sofrer e ponto final. 

Isto me incomodou completamente, pois apesar da fama de reformada, não sou fatalista, nem vejo Deus como um ventríloquo e dominador de marionetes, vejo-O mais como um Gepeto, que deu vida a seu boneco e agora assiste, não passivamente, suas escolhas e tenta guiá-lo e dirigir sua história, quando este percebe conveniente. Uma emoção intensificada aqui, uma emoção retirada ali... Porém o boneco pode ou não ouvir o grilo falante e não acabar virando um jumentinho.

Mas o ponto principal de meu incômodo não foi propriamente a visão de Deus como um controlador intransigente da história pessoal do ser humano, foi o ponto do sofrimento, da insignificância para Deus do sofrimento humano. 

Quando eu olho linearmente para a história bíblica, observo mudanças no Deus que se apresenta. Sim, a Bíblia diz que Deus é imutável, mas seu reflexo ao homem sempre dependeu do espelho que ele traz. E, a humanidade muda, a cultura evolui, retrocede, troca de forma, seus olhos enxergam diferente e o espelho também distorce diferente. Então há um ponto que sim, concordo em parte com minha mãe, a apresentação de Deus me parece um bater de martelo sem nexo, quase de uma criança que agarra a bola é grita: “vai sei do meu jeito porque a bola é minha!!”. E me aparece, tempos depois uma apresentação de um Deus ciumento e possessivo, que estabelece que o que causa sua ira é a adoração a outros deuses. Depois, nos profetas, vejo um Deus não que não se importe com a idolatria, ou que não seja feita só a vontade Dele, mas um Deus que levanta homens e mais homens porque não consegue ver justiça, retidão com o outro ser humano, nem respeito. Me parece que a imagem do espelho vai tomando uma forma... até que depois de um longo silêncio,  talvez uma respiração bem profunda, a imagem do espelho vira um pouco mais clara e começo a ver algo familiar... Ei... são olhos, um sorriso, vejo suor? Lágrimas... um rosto, um corpo. Sangue nas veias. Isso parece muito comigo. Sou eu. Entretanto... Também parece minha mãe. Meu pai, meu vizinho. Aquele mendigo, o alcoólatra que minha igreja não curou. E é muito, mas muito parecido com qualquer ser humano comum.

Não posso me sentir sozinha. Ou incompreendida, ou sofredora, ou abandonada por Deus. Como poderia? Deus me ama a ponto de não só morrer por mim, mas de viver por mim. Como eu. Porque se eu perguntasse a qualquer um se você morreria por alguém que você ama, ainda que essa pessoa não te ame nadinha, se fosse um filho, muitos ou alguns morreriam. Mas quantos hoje estariam dispostos a abandonar tudo que tivessem de bom para viver toda a sua vida completamente dedicados a sentir exatamente todas sensações físicas, emocionais, psíquicas, espirituais que essa pessoa tem a capacidade de sentir? E você não é Deus. 

Esse é o Deus que vejo. De uma paixão eterna. Sim, paixão, porque é espontânea,  avassaladora e ativa, superativa. Eterna, porque paixões passam, mas Deus é eterno. Ele nos ama apaixonadamente, não é o amor que conhecemos: pacífico, terno, sentimento constante, o sentimento do repouso. E o amor apaixonado, que lança, que age. O melhor da paixão, com o melhor do amor. Ou você conhece uma atitude mais kamikaze que Deus se tornar humano para poder viver como a criatura, obra de suas mãos, e morrer pelas mãos dessa criatura?

Fascinante. O Deus que eu sirvo é um humanista. Que irônico.

Um comentário:

  1. Oi Stephanie...
    Faz tempo que leio suas postagens e gosto muito, acho legal qnd se pensa e xpoe aquilo que pensa não pq todo mundo fala mais pq acha isso mesmo...
    Vc é inteligente, ousada e acredito de verdade ser uma mulher de Deus.....te admiro sua chará Stephanie...agora vou te seguir...

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