quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Impotência e Onipotência


Hoje vou escrever em primeira pessoa. Nada de ser impessoal.
Deus não é um oráculo, não dá para procurá-lo apenas quando se precisa orientação. Deus também não é um psicanalista, não dá pra eu deitar e começar a contar tudo para ele. E Deus também não é meu gênio da lâmpada vitalício, não posso sair pedindo, pedindo, como se fosse obrigação Dele me dar seja lá o que for. Deus não é um monte de coisas que muita gente pode não dizer, ou pensar de forma clara que é, mas que trata como se fosse. Só que uma coisa que deveria ser óbvia quando se vai ao encontro de Deus através de uma oração: não saber.
Assisti a um filme recentemente chamado ‘Maria’. Lindo filme, porém num ponto do filme há uma oração que foi a oração mais linda que eu já vi, tirando alguns clichês. E foi a oração mais sem nexo também. Até que fazendo uma relação da minha pessoa com o a oração, percebi que todas as minhas orações feitas daquela maneira produziram um efeito absurdo e indescritível em mim e nas circunstâncias que me levaram a orar: solução imediata. A oração resumia-se nisso: eu não sei o que fazer, eu não sei como orar, eu não sei o que pedir, não sei mais nem quem eu sou, nem pra que eu sirvo, aliás, porque estou orando mesmo…? EU NÃO SEI NADA!!
Pode ser que haja uma relação com o fato de nós paramos de tentar tomar o controle do navio e entregarmos finalmente para quem conhece o mar. E melhor, manda na tempestade. A sensação completa de impotência, e mais o assumir esta impotência é dizer pra Deus que eu finalmente entendi o básico: eu não sei de nada. Eu não conheço as conseqüências das minhas escolhas, não sei como serão meus dias a partir delas e muito menos sei se poderei suportar com sanidade todas as suas conseqüências. Então eu finalmente sou sincera com Deus e digo ‘eu não sei o que fazer’. Depois disso é como o suspiro final antes do sono da criança que correu o dia todo a até cansar quando enfim encontra o colinho da mãe e sabe que pode descansar.
É neste momento que Deus estala os dedos e possivelmente pensa: é agora que posso agir! A consciência de nossa impotência e da onipotência de Deus é que nos leva ao desespero,  medo, até raiva Dele e depois finalmente à entrega total e confiante das nossas vidas em Suas mãos.
O problema todo é que gostamos de ter o poder. Adoramos tanto o poder que esta foi nossa primeira tentação e a tentação que fez a humanidade cair: queremos constantemente ser deus. Por isso os sermões estão antropocêntricos, os livros que vendem são antropocêntricos, a vida toda pós-moderna é antropocêntrica. Devemos considerar também que, tirando um período da Grécia antiga, durante toda a história, tendo seu clímax na Idade Média e declinando no Iluminismo, a humanidade sempre foi Teocêntrica, seja lá qual Deus regesse determinada cultura. Então pulamos de um extremo maligno, para outro. E pro Cristianismo ainda é mais complicado achar o equilíbrio, pois nosso Deus é totalmente dedicado ao homem. Cabe a nós percebermos que esse ser humano que Deus quer que nos dediquemos é sempre o outro, e não nós mesmos.
Deus manipula as circunstâncias: Sim. Deus nos manipula? Não. Devemos apenas ser perceptivos o bastante pra ver como Deus nos molda através das circunstâncias e como nos leva pela mão a notar o quanto somos dependentes de Seu cuidado, pois apenas ele consegue ver toda a nossa história. E, feliz ou infelizmente, só percebemos tudo isso diante da total ineficiência de nossos esforços de entender, agir ou modificar a realidade.
Quando eu finalmente digo ‘eu não sei’, eu assumo diante de Deus o quanto sou pequenininha e carente de sua maravilhosa graça para absolutamente tudo na minha vida. Chegar na presença de Deus carregando dentro de si apenas o ‘eu não sei’ é entregar-lhe um presente de humildade e de disposição para saber tudo que Ele estiver disposto a te contar ou aceitar tudo que Ele quiser te esconder. É ter fé em Deus, e só.

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