quinta-feira, 1 de setembro de 2011

#Quid ~ Paredes, agenda do domingo e abandono.


Certo dia, eu estava no ensaio de louvor da minha igreja quando olho para fora e percebo o quão limitada está minha visão apenas pelas janelas e vidros da porta. Não consigo enxergar o lado de fora, por que há paredes.
Que coisa óbvia, é claro que há paredes. É um templo. Templos têm paredes. Mas igrejas não deveriam ser templos. Deveriam ter templos. As paredes limitavam minha visão e no momento que deixei minha mente ser levada pela metáfora, percebi que ou a igreja deveria deixar de ter paredes ou começar a não enxergá-las.  A existência daquelas paredes e o modo como eu notava que as pessoas precisavam delas ao invés de apenas usá-las, me causou um desconforto enorme, eu quis explodi-las! Mas é claro que não o fiz. Não tinha dinamite por perto... Que pena eu não ter o telefone da Acme. rs Apesar da frase ser bem batida, ao adaptá-la ficará melhor: A Igreja deveria amar as pessoas e usar as paredes e não o contrário.

É utópico pensar em uma igreja sem paredes, ou uma igreja que não deixe que as paredes a impeçam de enxergar quem precisa de Jesus, quando ela está preocupada demais com a agenda do próximo domingo. O próximo domingo é o que mantém a parede ali. Como a igreja pode se preocupar com o mendigo que está ali por não saber nem ler e escrever, com a família que criou uma dependência da propina do político que quando ele se esquece de mandar os 500 reais mensais ela precisa pedir cesta básica, como pode se preocupar com o membro que acha que a salvação só será adquirida se nas contas de Deus não houve nenhuma falta no domingo, ou com o adolescente que não tem idéia de que profissão seguir no vestibular, ou como ela pode se preocupar com o bairro que não sabe quem é Jesus de verdade... como se a igreja está muito preocupada com quais louvores serão cantados durante o próximo culto, que mensagem será trazida, qual será a oferta de missões, quem vai pregar no dia do pastor... A agenda do próximo domingo fortalece o poder das paredes. E faz com que ninguém consiga enxergar mais nada além delas.

Ninguém que precisa se preocupar exclusivamente com o próximo domingo consegue perceber que missões é ajudar aquela família, aquele mendigo, que cuidar e conviver com aquele membro que não entende a graça é discipular, que pastorear é mais que pregar é cuidar daquele jovenzinho que não sabe o que fazer do futuro. Esta deveria ser a agenda diária.

O jeito de resolver o problema da agenda e assim nem se preocupar com as paredes, pois nem notaremos sua presença é abandonando. Abandonando irreversivelmente a agenda. Ou, como diz Rubem Alves, entregando-se ao abandono absoluto do modo de vida religioso e dedicando apenas ao lado de fora, as pessoas. Afinal, Paulo diz bem, inspirado pelo Espírito, que contra bondade, paciência, domínio próprio, amor, esses frutos, essas conseqüências de se ter, o Espírito Santo, não há nenhuma lei contra. E Jesus disse que amando o próximo, que é o novo mandamento, não só cumpriríamos a lei, como seria a maneira de comprovar quem eram seus verdadeiros discípulos!

Logo, para nos livramos das paredes, não precisamos de dinamite, ou de um modelo completamente diferente de cristianismo, ou de óculos especiais que nos faça,m ver através delas. Para nos livrarmos das paredes precisamos abandonar. Abandonar a agenda de domingo que vem e começar trocar os planos e a vontade de ser igual a Jesus para ser igual a Jesus.
:)

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