quinta-feira, 7 de março de 2013

João 20:21, a pergunta da prostituta e a metanóia


Hoje eu sou alguém completamente diferente de dois ou 3 anos atrás. Muitas coisas aconteceram, muitas coisas mudaram, passei por uma metanóia absurda e completa.

Tudo começou TUDO MESMO, com uma palestra sobre missão integral, no seminário, onde o Clemir Fernandes falou sobre a integralidade da missão e JOÃO 20:21

João 20:21 me mudou completamente... Foi o que moveu cada passo meu de quebra com a religiosidade e legalismo. 


Foi assombroso. Enquanto ouvia as palavras e experiências do Clemir, João 20:21 ia entrando e rasgando tudo em mim por dentro. Tive que sair e ir pro banheiro chorar. Já vi muita gente chorando no seminário, por aulas de teologia, devocionais fortes, ou crises teológicas. Mas o meu choro foi algo que eu nunca havia visto em ninguém... não era um choro por ser impactado pelo 'diferente' foi um choro de decepção... comigo mesma. Eu procurava em mim Jesus e não achava... procurava no meu 'chamado' as ações de Cristo e não achava... Mas segurei o choro e fui ouvir mais. A segunda palestra foi do Alessandro Rocha, ele falava dos sentidos de Cristo, de como ele olhava, ouvia, sentia o cheiro, tocava... E mais uma vez eu não encontrei nada disso em mim. 

Depois dessa palestra e um texto de jeremias que o Gerson me passou... eu fiquei 2 dias de cama. É engraçado, tudo que mexe com minha alma, ataca meu corpo. Um dia inteiro sem conseguir levantar da cama, nem pra trabalhar. 

Aquilo ficou rodando na minha cabeça... rodando e mexendo... quebrando varias coisas, me quebrando toda... Depois daquele dia eu nunca fui a mesma... eu tentava me encaixar(literalmente quase) mas não funcionava mais. Tudo me era estranho, esquisito... tudo que era normal e sacro me parecia tão... errado. João 20:21 mudou TUDO.

Eu tenho uma característica muito interessante... As coisas mexem comigo. Nada que eu vejo, ouço ou experimento na vida passa despercebido ou ignorado. Eu lembro de coisas que ouvi e me moldaram quando eu ainda tinha uns 6 ou 7 anos. Uma aula da 6ª série...Sermões do meu primeiro pastor de quando eu tinha 9 anos. Lembro de filmes e diálogos de pessoas de anos atrás. As coisas me marcam. Me mudam, mexem com a minha cabeça e com o meu destino. E nunca tenho medo de mudar, aprender ou desaprender algo. Eu deixo que as coisas venham e mastigo elas, sinto cada gosto, cada tênue sabor, aprecio e absorvo de acordo com o sinto e penso enquanto mastigo. 

Daquele dia em diante eu soube que não poderia mais ser outra pessoa senão alguém que se sente completamente como o Jesus descrito por João, Mateus, Lucas e Marcos. E sabia que assim minha via crucis começaria. Então decidi me distrair, me distrair daquilo tudo que ouvi... porque sentia que as coisas não ficariam boas, que as pessoas não aceitariam. E fui me distraindo por alguns meses, quase um ano. Mas não podia. Não conseguia. Era como se algo dentro de mim lutasse pra sair e progressivamente foi saindo... Os livros que eu escolhia para ler eram diferentes, o mestre que eu escolhi para aprender era diferente, as opiniões e sermões que começava a pregar era diferentes... 

Me lembro que outro dia decisivo foi quando ouvi de uma moça, que era prostituta, a seguinte pergunta: "Se você é cristã, porque você me trata tão bem?" Foi o último golpe. Jamais seria a mesma pessoa depois daquilo, várias coisas me passaram pela cabeça: que tipo de cristão é o comum, porque ser cristã me atrapalharia se ser gente boa com ela, se eu queria ser cristã se significava isso... Depois disso foram mais alguns dias tentando ler a Bíblia e empacando em João 20:21. 

Sempre achei o ministério de Jesus leve. Me soou sempre tão natural,  simples... Natural como almoçar quando se tem fome, conversar com alguém quando se sente sozinho... Não teria outra definição além de natural. Nada na minha vida era natural. Nada me parecia mais leve. Eu não via minha vida naturalmente ligava a minha 'missão' ou 'chamado', via separada, dicotomizada. Você sabe me dizer onde começa uma conversa corriqueira de Jesus e onde termina numa lição de vida? Parece tão homogêneo, não dá pra saber. Era isso que me incomodava, tirava o sono... Eu sabia exatamente onde e quando era 'ministério' e onde e quando era vida. Eu queria que minha vida fosse uma missão. Queria que cada hora do dia fosse sagrada. Não apenas num sermão pastoral sobre vida com propósitos, mas em cada conversa de ônibus, saída pro cinema, brincadeira entre amigos. E fiz isso. 


E quando cada momento meu passou a ser sacro, cada conversa minha, independente de assunto, começou a ser iluminada, cada canto que ia, cada minuto de diversão, cada papo engraçado, cada amizade passou a ser parte da missão, começaram a achar que eu tinha abandonado a missão. Por que um dia perde o sentido se você faz missão todos os dias, um método perde o sentido se você faz de cada momento um trazer do reino à nos. Eu não entendia ainda por completo o que acontecia dentro de mim, o tamanho do impacto que João 20:21 me trazia, como podia esperar que todos compreendessem? Mas esperei.

Meu erro foi confiar nas pessoas, acreditar que eram boas, fiéis, esperar o melhor delas. Não tenho dúvida. Meu erro foi achar que elas agiriam comigo do jeito que sempre agi com elas quando elas vinham me confessar suas dificuldades e "pecados". E na dança de aprender a lidar com novo, eu errei varias vezes, só não obtive a reciprocidade que esperava.

Mas não é pra isso o texto. O texto é pra se lembrar de João 20:21. As pessoas parecem querer seguir Jesus metódica e metodologicamente, quando ele mesmo não foi nem se usou de nada disso. Ele viveu, dentro de sua religião, fazendo aquilo que ele achava primordial: cuidar de pessoas, falar e ensinar, perdoar e repreender ações dos religosos que oprimiam(em varios sentidos) o povo. Ele trouxe leveza à vida. Ele trouxe vida. Ele prometeu que seu ensino seria leve, perfeito para os oprimidos, machucados e cansados. Ele curou, ouviu, tratou, alimentou e andou com as pessoas enquanto vivia sua vida. A sua espiritualidade não estava ligada, com um cordão umbilical, ao templo, nem mesmo a sua própria religião, já que várias vezes ele quebrou costumes dela em prol das pessoas. Era tudo pelas pessoas. 


Foi isso que me impactou. O foco não era ele mesmo, aceitação ou aprovação das pessoas, não era a religião, não era nem mesmo o 'ministério'(já seu próprio discurso já o levou a ameaças a esse ministério)... Eram as pessoas, seu bem estar, sua vida. Jesus não viveu a neurose de hoje de um 'jesus freak', 'eu escolhi esperar', 'gospel' ou outras coisas... Ele viveu simplesmente sua vida como alguém normal que resolveu dedicar-se a conversar, falar, ouvir e viver em prol das pessoas. Jesus não foi um aprendiz de doutor da lei, depois um jovem sacerdote e depois um fiel seguidor, cumpridor e pregador da Torá. Ele respirava as escrituras, ele vivia as escrituras. Era muito mais que simplesmente um cargo ou um profeta... Ele vivia. Não havia dicotomia, não havia divisão, o que era um puxar de papo(até mesmo inapropriado) na beira do poço, era um ensinamento de vida, eterno e impactante.
Eu não sei o que o cristianismo se tornou exatamente, mas sei que somos chamados a nada mais nada menos do que sermos às pessoas o que Cristo foi. E o que temos sido?

 

DISSE-LHES, POIS, JESUS OUTRA VEZ: PAZ SEJA CONVOSCO; ASSIM COMO O PAI ME ENVIOU, TAMBÉM EU VOS ENVIO A VÓS. (JOÃO 20:21)

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